Interestelar

SINOPSE
Após ver a Terra consumindo boa parte de suas reservas naturais, um grupo de astronautas recebe a missão de verificar possíveis planetas para receberem a população mundial, possibilitando a continuação da espécie. Cooper é chamado para liderar o grupo e aceita a missão sabendo que pode nunca mais ver os filhos. Ao lado de Brand, Jenkins e Doyle, ele seguirá em busca de uma nova casa. Com o passar dos anos, sua filha Murph investirá numa própria jornada para também tentar salvar a população do planeta.



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Parece que agora é oficial. Entramos na temporada de filmes que serão indicados para o Oscar 2015. E enquanto nos preocupamos com o quanto um filme pode ser bom ou ruim, os irmãos Jonathan e Christopher Nolan parecem preocupados em fritar alguns cérebros no cinema mais próximo de você. E para quem não sabe, estes são os responsável pelo roteiro doentio e obviamente genial de Interestelar (Interstellar).

O filme se passa em um futuro, aparentemente não tão distante, onde a Terra vem se tornando estéril por culpa de uma praga que está consumindo, aos poucos, toda forma de vida vegetal do planeta e causando terríveis tempestades de poeira. Os animais parecem já estar extintos e, para o seres humanos, não resta nada além de esperança vazia de que as coisas, de repente, comecem a melhorar.

Até que a NASA, que se pensava estar extinta, descobre um Buraco de Minhoca (Wormhole) nas proximidades de Saturno, que dá acesso a uma nova Galáxia com alguns planetas possivelmente habitáveis. A missão? Descobrir qual o planeta mais amigável e impedir a extinção dos seres humanos. Interestelar poderia ser apenas um grande blockbuster raso de ficção científica. Mas está longe disso. É simplesmente um tapa, cientificamente embasado, na sua cara.


Christopher Nolan, além de participar da produção do longa com Emma Thomas e Lynda Obst, também foi o responsável pela direção. Trabalhou junto a Kip Thorne (físico teórico com vasta experiência em relatividade geral) para trazer uma fidelidade científica surpreendente. Tudo que se passa em Interestelar, por mais que ainda não se possa ver na prática, já foi teorizado em algum momento, tornando a história mais rica e interessante.

“Em sua essência, a história mudou completamente. A não ser pela ideia de que temos exploradores deixando a Terra e usando wormholes para visitar outras galáxias, é basicamente tudo trabalho do Nolan. Mas a visão continuou, a visão de um filme baseado em ciência real, seja ela verdade ou especulação. Isso foi preservado. Nada poderia violar as leis da física. Em segundo, pedi que as especulações retratadas no filme não poderiam partir dos roteiristas, mas, sim, dos cientistas. No final, eu fiquei bem feliz com o resultado." -Kip Thorne.

O elenco também é parte fundamental da obra, temos grandes nomes como: Anne Hathaway, Michael Caine, John LithgowJessica Chastain e Mackenzie Foy. Apesar de todos esses grandes nomes, é Matthew McConaughey (vencedor do Oscar 2014 de Melhor Ator) quem merece destaque. Ele interpreta Cooper, o principal piloto da nave exploratória, e apesar da sua aparência e seu sotaque inconfundível, interpreta magistralmente o seu papel.


A trilha sonora, feita por Hans Zimmer (que acompanha Nolan desde sempre), é quase um espetáculo a parte. Consegue ser emocionante quando necessário e, ao mesmo tempo, simples e pontual. Usa e abusa da orquestra para homenagear os principais acordes de "Assim Falou Zaratustra", tema de 2001: Uma Odisséia no Espaço, mas ainda mantendo ainda sua originalidade.

Interestelar discute temas como sacrifício, amor e tempo-espaço de forma muito lógica, aspecto que pode causar certo estranhamento por parte do público mais romântico. Além disso, as trajetória das personagens se refletem em seus discursos e ações, tornando críveis suas motivações.

O enredo conta com sutis homenagens a grandes clássicos da ficção científica, principalmente aos que abordaram o tema "Espaço". No quesito viagem espacial é possível notar pitadas de Apollo 13 ou 2001: Uma Odisséia no Espaço. A forma com que é dada uma personalidade forte às Inteligências Artificiais lembra Star Wars, 2001, ou ainda Guia do Mochileiro das Galáxias e a relação existente entre humanos, máquinas e deuses é diretamente proporcional a Isaac Asimov.


Christopher Nolan é frequentemente criticado por seus roteiros demasiadamente expositivos e sua falta de controle sobre a disposição dos elementos em cena. Nesse filme, pode-se perceber que a maioria dos planos são fechados, numa tentativa de escapar desse estigma. Algumas vezes, então, não se entende claramente o que acontece na tela. Felizmente isso não incomoda muito e não chega a ser, sequer, considerado um fator que atrapalhe a experiência.

Além disso, o nível de exposição nesse filme parece ser exatamente o necessário. Não há muitas explicações repetitivas, mas também não existe nada que se passe sem o mínimo de explicação prévia, o que leva o telespectador a sair do cinema com vontade de explorar, literalmente, o universo. Nos leva a querer saber mais sobre cada teoria ali discutida, e imaginar o quão perto (ou longe) estamos, de uma exploração espacial avançada.

Em resumo, Interestelar é um "Legítimo Nolan": um filme ambicioso, provocante e que trabalha vários aspectos presentes em longas conceituais, mas que não esquece o que um bom blockbuster precisa ter e não nega isso ao seu público. Mas, definitivamente, não é um filme para pessoas que gostam de receber informações mastigadas. É uma odisséia espacial digna de entrada no Hall das Grandes Sci-Fis. Deve ser visto, apreciado, discutido e visto novamente.


"A humanidade nasceu na terra. Mas não estava destinada a morrer aqui."
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