Transparent - 1ª Temporada

SINOPSE
Quando Mort reúne seus filhos para falar do futuro, os três ficam chocados ao descobrir que o assunto não é herança financeira, mas a notícia de que o pai deseja se assumir como transgênero. Todos os relacionamentos (com o mundo, com eles mesmos e um com o outro) irão se modificar à medida que os segredos e as dificuldades vão se desvendando.



"Só significa que todos nós precisamos começar de novo."

Antes de tudo, quero deixar claro que este texto fala sobre temas fortes e controversos para alguns públicos. É importante avisar que o que será comentado aqui pode afetar negativamente uma parcela dos nossos leitores que tenham algum tipo de problema relacionado a essas pessoas que beijam na boca de outras do mesmo sexo e outras que chegam até a trocar de sexo. A série de hoje, Transparent, fala, basicamente, sobre isso.

A série foi criada por Jill Soloway para o serviço de streamming da Amazon e produzido pela Amazon Studios. A maioria dos episódios é dirigida pela própria Jill, enquanto os outros têm direção de Nisha Ganatra. Transparent é estrelada por Jeffrey Tambor, Amy Landecker e Jay Duplass, entre outros. A fotografia fica a cargo de Jim Frohna e a Dustin O'Halloran é responsável pela trilha sonora em oito episódios, deixando dois para Vincent Jones.

Apesar de ter uma trama simples, Transparent aposta em personagens bastante complexos para a construção do drama. A série começa exatamente no momento em que a personagem de Jeffrey Tambor decide assumir sua identidade feminina de Maura e passar esta informação para seus três filhos: Sarah, Josh e Ali. A partir deste momento, a vida destas pessoas não muda simplesmente em relação a isso. Inspirados (ou revoltados) com o pai, seus filhos decidem procurar o que realmente os faz felizes, cada um em sua jornada.


A série trata muito bem a individualidade de cada personagem (menos de Ali, que é um pé no saco), levando cada um dos filhos de Maura a uma jornada de auto descoberta ao mesmo tempo em que os obriga a relacionar estas jornadas com o constante aprendizado que precisam desenvolver em relação à nova fase do relacionamento deles com "a" pai. É muito interessante a forma como a personalidade de cada um vai sendo abordada desde o primeiro episódio até o último da temporada.

Um pequeno problema é a forma com a qual estas jornadas são iniciadas. O primeiro episódio da série, apesar de ter um tema centra muito interessante, começa a desenvolver várias situações "controversas" ao mesmo tempo e, em alguns momentos, chega a parecer um filme desses de igreja, como Deus não está Morto. Pode-se perceber uma urgência muito grande dentro do episódio em falar sobre identidade de gênero (esse é óbvio), homossexualidade, consumo de drogas, aborto etc. O primeiro episódio realmente parece algo folhetinesco e bobo. É com felicidade que, a cada episódio, percebemos que esta característica vai ficando para trás.

Infelizmente, o caminho oposto é trilhado pela trilha sonora. A música da abertura, por si só, já é suficientemente emocionante e incrível. O resto da trilha se baseia em rearranjos desta abertura, criando algumas composições ainda muito interessantes. O problema é que, ao chegar ao final da temporada, você já está de saco cheio dos mesmos acordes, que passam a ser tocados de maneira praticamente aleatória, criando músicas cuja maior qualidade é "fazer a gente lembrar da abertura". Esse é um exemplo de como a "Estratégia Dreamworks" é nociva: algo muito bom, quando levado a um remix infinito e desnecessário, não perde a sua qualidade original, mas, ao chegar ao fim da linha, se torna algo cansativo.


As atuações estão muito boas. Jeffrey Tambor e Melora Hardin, principalmente, estão muito convincentes em seus papéis, que não podem ser considerados como convencionais, e passam todas as informações e emoções que precisam transmitir com muita clareza e profundidade. O resto do elenco também está muito bem, mas a forma orgânica com a qual estas duas personagens são conduzidas ajuda bastante no processo de ligação entre a série e o espectador.

Em resumo, Transparent é uma série que fala sobre um assunto muito relevante de forma muito delicada e interessante. Não é a série tecnicamente mais relevante do ano, mas aborda assuntos e situações cuja discussão é imediata, sobre pessoas que, de certa forma, só precisam de um espaço para que possam ser felizes pelo que realmente são.
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