Armado com a surpreendente habilidade de encolher em tamanho, mas expandir em força, o grande ladrão Scott Lang deve aceitar seu herói interior e ajudar seu mentor, o dr. Hank Pym, a proteger o segredo por trás de seu especular traje de Homem-Formiga de uma nova geração de grandes ameaças. Enfrentando obstáculos que parecem insuperáveis, Pym e Lang precisam planejar e levar a cabo um roubo que salvará o mundo
"Eu conheço um cara." - Hank Pym
Este Homem Formiga (Ant Man) faz algo diferente do que estamos acostumados a ver, pois apresenta a origem do segundo Homem Formiga. Scott Lang, um ex-presidiário do bem, conhece Hank Pym, o herói original, que já está vivendo sua aposentadoria e que se torna uma espécie de mentor para Lang. Não vemos muito da trajetória de Pym, já que o Universo Cinematográfico da Marvel o estabeleceu, por meio de flashbacks, na geração anterior da SHIELD, junto a Howard Stark e Peggy Carter. Uma possibilidade a ser explorada é de que vejamos o Formiga original na segunda temporada de Agent Carter, uma vez que o filme tenha deixado claro que Pym atuava como herói por um tempo.
O roteiro foi reescrito algumas vezes com base na proposta feita por Edgar Wright que, por sua vez, se baseou nos quadrinhos originais do herói. O filme é dirigido por Peyton Reed e tem nomes como Paul Rudd, Michael Douglas, Evangeline Lilly e Corey Stoll no elenco. A fotografia é coordenada por Russel Carpenter e a trilha sonora fica a cargo de Christophe Beck.
Perdido na serialização bagunçada que a Marvel está fazendo nos cinemas, uma dúvida recorrente do público é justamente sobre o arco no qual está inserido o Homem Formiga. A primeira fase da Marvel se encerrou em Vingadores, que foi um grande encontro de todos aqueles heróis que víamos separadamente nos filmes, enquanto a Fase 2 se iniciou com o terrível Homem de Ferro 3. Seria esse Homem Formiga o fim do segundo arco, mudando um pouco as coisas e substituindo os Vingadores nessa posição de responsáveis, ou estaria ele iniciando uma nova era, um novo arco narrativo para a Marvel, chamado de Fase 03?
A resposta é dada pelo próprio filme, que deixa claro: não importa. A única função deste filme é divertir e, eventualmente, fazer alguma referência à Era de Ultron para localizar os espectadores. Não se trata de um encerramento, mas também não é um início. É, teoricamente, o que foi o Guardiões da Galáxia: um filme com personagens novas em uma aventura fechada, mas com abertura para a inclusão no universo que está sendo construído ali. Teoricamente.
O grande problema aqui é que, ao contrário de Guardiões da Galáxia, que entende sua posição como um filme de comédia quase surrealista, Homem Formiga fica em cima do muro entre se levar a sério e se deixar levar pela risada. Apesar de existirem momentos engraçados e um ou dois momentos que chegam a ser surreais, como a luta em miniatura entre o herói e o vilão, chamado Jaqueta Amarela; falta timing, tanto de roteiro quanto de montagem, para colocar humor de verdade em uma trama de assalto a banco e livrar o filme do limbo dos "filmes bobos com momentos engraçados".
Filmes de assalto a banco são comumente pontuados por cenas com diálogos acompanhados de imagens dinâmicas das estruturas a serem invadidas, enquanto as personagens discutem sobre o plano a ser executado, e por momentos com muito aproveitamento da montagem paralela, justamente para mostrar cada pessoa executando sua parte do plano. Em Homem Formiga, a segunda parte até está presente, mas a primeira fica muito na promessa. A discussão do roubo fica apenas no áudio e falta o apoio visual, que é geralmente o que mais empolga nesse tipo de cena. Em um filme que se esforça tanto para ser "legal", essa é uma falha boba e nada justificada.
Falando em faltas bobas, existem alguns momentos em que a impressão é de que o continuísta deixou o filho de 10 anos trabalhando e foi tomar um café. Por outro lado, o excesso de coisas filmadas em frente a uma tela verde não chega a incomodar (ao contrário de Exterminador do Futuro: Gênesis, por exemplo). Os efeitos de diminuição do Homem Formiga são muito interessantes e evitam que o filme tenha cenas iguais às do Chapolim Colorado.
A parte sonora do filme também está muito boa. A trilha sonora é muito bacana, com uma pegada de música latina que se inicia junto com o filme. Além disso, o design de som é muito interessante. A diferença da percepção do mundo nos momentos em que o herói está diminuído, que dá uma boa sensação de diferença de tamanho, o som planejado para as formigas e até o barulho que a água faz quando o herói sai da piscina são bons exemplos de como o som foi pensado para contribuir de forma positiva para a narrativa.
As personagens, tirando o trio principal (Hank, Hope e Scott), são bastante caricatas, mas isso não incomoda a princípio. Porém esse incômodo logo aparece quando o vilão assume a armadura do Jaqueta Amarela e vira uma aberração, tão caricata quanto o vilão horrível e antipático de Guardiões da Galáxia, que se banha no sangue de inocentes (com a diferença que, em Guardiões, isso era engraçado). As atuações acompanham o nível das personagens, mas Corey Stoll mostra, mesmo durante os momentos ruins de sua personagem, que tem potencial para algo maior.
Infelizmente, Homem Formiga não passa de uma aventura cujo maior mérito realmente garantido até agora é o de ter um lugar garantido na programação de domingo na Globo. Mesmo nos melhores momentos, o filme não é nada marcante. Não é como Guardiões da Galáxia em termos de comédia, Capitão América 2 em termos de trama ou qualquer outro em termos de ação. Se esconde atrás das justificativas fracas de "padrão Marvel de cinema" e "é um bom filme para desligar o cérebro", mas não vai sobreviver ao teste do Tempo, sendo esquecido antes da metade do semestre.