O Exterminador do Futuro: Gênesis

SINOPSE
Em 2029, a resistência humana contra as máquinas é comandada por John Connor (Jason Clarke). Ao saber que a Skynet enviou um exterminador ao passado com o objetivo de matar sua mãe, Sarah Connor (Emilia Clarke), antes de seu nascimento, John envia o sargento Kyle Reese (Jai Courtney) de volta ao ano de 1984, na intenção de garantir a segurança dela. Entretanto, ao chegar Reese é surpreendido pelo fato de que Sarah tem como protetor outro exterminador T-800 (Arnold Schwarzenegger), enviado para protegê-la quando ainda era criança.

O Futuro não está traçado.

2015, assim como Dr. Brown e o franguinho McFly constataram, é um ano muito interessante. Talvez não tenhamos hover boards nem Tubarão 19, mas o pau de selfie e um outro aspecto garantem a diferença desse ano para os outros: 2015, para o audiovisual, é um ano livre de cronologia e de convergência temporal. O que isso significa? Que vários "clássicos", de várias épocas, há muito tempo perdidos, estão retornando às telas, como se o ano fosse uma grande coletânea de nostalgia. Entre as presenças marcadas estão a nova aventura de Max Rockatansky, em Mad Max: Estrada da Fúria, uma continuação inusitada de Jurassic Park, que é Jurassic World e um reboot da franquia do Exterminador do Futuro, que é Exterminador do Futuro: Gênesis (Terminator Genisys).

O roteiro, escrito por Laeta KalogridisPatrick Lussier com base no universo criado por James Cameron e Gale Anne Hurd, é dirigido por Alan Taylor e protagonizado por Arnold Schwarzenegger, Emilia Clarke, Jason Clarke e Jai Courtney. A fotografia fica a cargo de Kramer Morgenthau, enquanto a trilha sonora é comandada por Lorne Balfe.

Verdade seja dita: Exterminador do Futuro é uma franquia maltratada. Depois dos dois primeiros filmes, que são excelentes, o universo sofreu uma fraca continuação direta, que é Exterminador do Futuro: A Rebelião das Máquinas, e um filme fora da curva, que se passa inteiramente no futuro, que é Exterminador do Futuro: A Salvação, também conhecido como o pior de todos. Infelizmente, a garantia "anti-continuações", criada por James Cameron para o segundo filme (Sarah Connor idosa gravando sua voz enquanto John Connor brinca com a filha em um parquinho), não passou de uma cena adicional na versão do diretor e não impediu que as coisas chegassem ao ponto em que chegaram.


Não sou contra reboots. Acho que essa é uma boa forma de reimaginar um universo, sem estragar algo que outras pessoas fizeram. Essa foi a louvável proposta básica de Star Trek, dirigido por J.J. Abrams, por exemplo. Neste ponto, a premissa de Exterminador do Futuro: Gênesis é, de certa forma, muito interessante. A mera possibilidade de desfazer o fraco trabalho apresentado no terceiro e no quarto filmes da franquia já dá, a esse quinto filme, um tom de promessa e de novidade, deixando ele bem bonito sob as luzes dos holofotes.

E essa promessa fica mais intensa no início do filme. Ao fazer planos exatamente iguais aos presentes no primeiro Exterminador do Futuro, incluindo as mesmas roupas (até mesmo o Adidas utilizado por Kyle Reese no filme original), movimentações de câmera, ações das personagens etc., o filme mostra total esmero e reverência ao universo no qual está tentando se inserir. Até o momento em que o passado de 1984 se revela diferente do original, apresentando um reboot (não é spoiler, pois está na sinopse do filme), o que vemos é quase poético.

O problema é quando, não contente com a reviravolta inicial, já suficiente para a surpresa, e nem com a mistura super divertida que faz ao misturar elementos dos dois primeiros filmes da franquia neste quinto (mesmo que invertendo alguns detalhes, como os papeis de donzela em perigo e salvador entre Kyle Reese e Sarah Connor), o filme insiste em forçar a barra a todo momento. É como se a cada quinze minutos algo precisasse acontecer para deixar o expectador ainda mais intrigado e sem saber o que esperar a seguir. E consegue, mesmo, fazer isso. Mas faz tantas vezes que, em determinado momento, isso deixa de adicionar ao filme. Menos é mais.


Aliás, isso também se aplica às personagens. Centrado no trio composto por Kyle, Sarah e seu guardião, o exterminador carinhosamente chamado por ela de Pops (é preciso ressaltar que a relação entre Sarah e o Exterminador é um dos pontos mais fortes do filme), o filme apresenta cada vez mais personagens que, por sua vez, são cada vez menos relevantes. O policial interpretado por J.K. Simmons, por exemplo, é uma desculpa esfarrapada para mostrar o ator por bons dez minutos em tela. O cara não adiciona em nada! Tirando o trio principal, não há ninguém com carisma suficiente para prender o espectador. Nem mesmo John Connor, que talvez apresente o plot twist mais forçado de todo o filme (e de todo o ano).

O visual do filme começa muito interessante, mas logo descamba, junto com o resto, pra um espetáculo (não exatamente espetacular) de cenas feitas em computação gráfica para tentar causar buzz. A barra é tão forçada que existem momentos, por exemplo, em que fazem um ônibus capotar de forma estrondosa com uma pessoa sem cinto dentro e, no final, a pessoa tem apenas um filete de sangue na testa. Afinal, qual é a necessidade de tanto malabarismo se isso não vai sequer causar dor ou ferimentos?


A trilha sonora não é ruim, mas falha em separar este Exterminador do Futuro de um blockbuster caça-níquel. Não existe uma identidade forte, como nos filmes originais, nem uma inovação relevante, como fez a trilha sonora de Mad Max: Estrada da Fúria, por exemplo. São só músicas que, por algum motivo, estão por ali durante o filme.

Em resumo, Exterminador do Futuro: Gênesis é uma alegria cheia de culpa para todos os fãs da franquia do Exterminador do Futuro, que se divertem vendo Arnold Schwarzenegger retornar (e se divertir como nunca!) a seu melhor papel e confabulando sobre a nossa relação com as máquinas que (por enquanto) nos servem. Infelizmente, é um reboot que não se justifica narrativamente e que depende muito dos filmes originais para a construção de seus melhores momentos, virando uma bagunça que não se sustenta sozinha quando tenta alçar voo para estabelecer sua própria linha do tempo.
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