O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos

SINOPSE
Após ser expulso da montanha de Erebor, o dragão Smaug ataca com fúria a cidade dos homens que fica próxima ao local. Após muita destruição, Bard consegue derrotá-lo. Não demora muito para que a queda de Smaug se espalhe, atraindo os mais variados interessados nas riquezas que existem dentro de Erebor. Entretanto, Thorin está disposto a tudo para impedir a entrada de elfos, anões e orcs, ainda mais por ser tomado por uma obsessão crescente pela riqueza à sua volta. Paralelamente a estes eventos, Bilbo Bolseiro e Gandalf  tentam impedir a guerra.



Adeus, Terra Média.

Star Wars é aclamado por praticamente todas as pessoas que já assistiram. Sendo assim, é natural pensar que o filme influenciou (e continua influenciando) muitas obras posteriores, como por exemplo: os soldados de Jogos Vorazes, que se assemelham a Stormtroopers; ou (indo mais fundo ainda) o fato de que 60% das histórias em geral trazem como protagonistas dois homens e uma mulher.

Tendo esse fato em vista, nosso querido e odiado Peter Jackson (que dirigiu tanto Senhor do Anéis quanto O Hobbit), aparentemente, achou que seria uma boa ideia buscar "como referência" o maior problema da franquia Star Wars. A essa altura você já deve saber do que se trata: fazer três filmes épicos e, alguns anos depois, mais três tristes filmes contando a origem de tudo.

No dia 11 de dezembro de 2014, estreou o filme que seria nossa última viagem ao universo fantástico criado por J. R. R. Tolkien, que toma forma em um lugar chamado Terra Média. A expectativa era grande, pois, apesar do gosto agridoce dos dois filmes anteriores, O Hobbit: a Batalha dos Cinco Exércitos (The Hobbit: The Battle Of The Five Armies) prometia ser uma conclusão épica, assim como seu título.



O roteiro é baseado no livro O Hobbit ou Lá e De Volta Outra Vez (cujo review você pode ler aqui), e é protagonizado por Martin Freeman, que contracena com Richard Armitage e alguns nomes já conhecidos da franquia anterior, como Ian McKellen e Orlando (muitos anos mais velho) Bloom. A música é composta por Howard Shore e a fotografia é feita por Andrew Lesnie. Guillermo del Toro foi consultor e influenciou, entre outras coisas, em alguns pontos do roteiro.

Antes de falar especificamente sobre o filme, é preciso fazer uma ressalva: a trilogia O Hobbit teve base em outros textos, também escritos por Tolkien sobre a Terra Média, além do livro homônimo. Entre os textos, estão alguns dos apêndices que se encontram no final do livro O Retorno do Rei. Alguns desses conteúdos não foram lidos pelos autores desse review.

Dito isso, vamos ao filme: mas que filme? O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos dificilmente consegue ser considerado como um longa-metragem propriamente dito, se levarmos em consideração seu arco narrativo. Veja bem: é comum em uma construção narrativa a apresentação de três momentos, comumente conhecidos como início, meio e fim.


Acontece que o apresentado é somente o fim. O filme inteiro, de quase três horas de duração, é apenas um modo gigantesco de concluir os fatos apresentados nos filmes antecessores. Não existe uma apresentação de trama, um conflito e uma conclusão.

Se a terceira parte d'O Hobbit fosse - por algum acaso do destino - visto separadamente, não teria diferença alguma daquelas cenas de efeitos especiais que são usadas em televisões ultraHD's, expostas em uma loja de departamento qualquer. Aliás, nem para esses propósitos o filme seria muito eficiente.

Alguma técnica de filmagem bizarra, atrelada aos famigerados 48 frames por segundo e a falta de uma camada de noise, deixou o terceiro filme da franquia com uma bizarra sensação de que os personagens humanos eram "mais reais que a nossa própria realidade" e os personagens modelados em 3D estavam vindo direto de um Playstation 4. O contraste é gritante, e incomoda.


Comparar o filme d'O Hobbit com O Senhor dos Anéis acaba se tornando inevitável, o que nos leva a pensar: onde foi que as coisas desandaram? Você consegue perceber a diferença até em coisas mais simples como, por exemplo, a trilha sonora. Cada filme d'O Senhor dos Anéis possui uma trilha marcante e envolvente, e A Batalha Dos Cinco Exércitos (assim como seus dois antecessores) apresenta trilhas genéricas e desinteressantes.

E falando em desinteressante, onde foi parar a profundidade das personagens? Tirando nossa querida Companhia de 14 miniaventureiros, nos são jogados vários coadjuvantes sem sal, que somos obrigados a engolir; e personagens interessantes, como o Beorn, foram, mais uma vez, deixados de lado.

Se é que nós podemos salvar todos os participantes da comitiva de Thorin-Escudo-de-Carvalho desta lista. Mais uma vez, fazendo o paralelo com O Senhor dos Anéis, ao chegarmos ao O Retorno do Rei, tínhamos um profundo interesse no futuro daquelas personagens, nos preocupando com os riscos que elas corriam e nos aliviando com seus alívios. Em O Hobbit, pouco nos preocupamos com uma boa parte dos anões. Se é que existe alguém, que não seja exatamente fã da série, que sabe dizer de cor quantos anões são e seus respectivos nomes.


E esse descaso é bem aparente: durante toda a trilogia, a alguns anões foi dado menos tempo de tela do que a outras criaturas, por mais insuportáveis e insignificantes que elas fossem. Esse é o caso do Humano com Peitos de Ouro em A Batalha dos Cinco Exércitos, que teve mais tempo de tela do que alguns dos aventureiros pequeninos, mesmo somando os três filmes da série.

Apesar de tantas reclamações, o terceiro longa-metragem da franquia não é um péssimo filme. A história adaptada aos cinemas d'O Hobbit, como um todo, é divertida. Funciona como um bom entretenimento. A frustração vem apenas do fato de ser uma adaptação de um conjunto de obras literárias simplesmente genial. O potencial existe, mas não foi encontrado.


Nossa última visita à Terra Média acabou deixando um gostinho amargo na boca. Mas considerando que o caminho deixado por Star Wars foi, infelizmente, seguido por Peter Jackson (mesmo que inconscientemente), será que A Batalha Dos Cinco Exércitos vai mesmo ser a última história contada nos cinemas, sobre o Um Anel?

Quem sabe se não veremos Gandalf novamente daqui a alguns anos, para podermos desejar-lhe um simples "bom dia!".
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