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Coisas estranhas começam a acontecer na vida de Bruno, um jovem de quase 30 anos que acaba de se separar da mulher. Bruno vive uma vida monótona, tentando lidar com o término, até perceber que as pessoas ao seu redor estão desaparecendo só para ele.
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"Pra onde será que vão essas abelhas? Não sei."
O que você faria se, aos poucos, as pessoas fossem sumindo? Um dia é um cobrador do ônibus, outro dia é o atendente da padaria, outro dia é um amigo próximo... Essa é a proposta de Entre Abelhas, que, apesar de ser estrelado por Fábio Porchat, não é um filme de comédia!
Entre Abelhas tem o roteiro assinado por Fábio Porchat e Ian SBF e é dirigido pelo segundo. Porchat divide o palco com nomes como Irene Ravache (Guerra dos Sexos) e Marcelo Valle (Tropa de Elite) além de vários outros integrantes da equipe do Porta dos Fundos. A trilha sonora é de composição de Gabriel Chwojnik e a fotografia fica sob a responsabilidade de Alexandre Ramos.
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Antes de continuar com o texto, preciso enfatizar um ponto já abordado no primeiro parágrafo: Entre Abelhas não é um filme de comédia. O filme é um drama com alguns toques de comédia, como as que o ator Steve Carell (The Office) vive participando hoje em dia. Além disso, a proposta do filme é absurda e ao mesmo tempo extremamente interessante e convidativa. Chega a soar como algo que sairia da mente maluca do roteirista genial que chamamos de Charlie Kaufman (Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças).
E é claro que uma proposta desse nível não passaria impune sem levantar algumas discussões muito interessantes. O filme levanta questões bastante existencialistas sobre o individualismo, o "Eu" e o "Outro", sobre pertencimento e a mais óbvia, sobre a invisibilidade social, entre várias outras discussões apresentadas. A maioria destas discussões é levada para casa e não é concluída durante o filme, mas ao mesmo tempo não deixa nenhuma sensação de incompletude. Fica bem claro para o espectador que o filme quer que ele discuta sobre estas questões com outras pessoas ou, dependendo da situação, consigo mesmo.
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Quando se vai falar sobre a trilha sonora do filme, surge um grande dilema: "é genial, mas não parece, ou parece genial, mas não o é?". Acontece que essa trilha, além de ser muito envolvente e conseguir passar muito bem o sentimento de aflição do protagonista, tem um fator meio que metalinguístico. Em alguns momentos, por ser repetida em loop, o espectador sente falta de algumas notas, que estavam ali em versões anteriores deste loop. Ou seja: Algumas notas somem em determinados momentos da música, assim como as pessoas no filme, para o protagonista. É genial ou só parece?
Falando em aparências, a fotografia do filme também é muito boa. Apesar de o diretor insistir em um determinado tipo de plano várias vezes (não que esse plano seja ruim, muito pelo contrário), a fotografia é muito inventiva e também ajuda a passar muito da proposta do filme. As cores também são muito bem utilizadas. O protagonista, por exemplo, usa muitos tons cinzentos, como se ele também fosse uma imagem parcialmente apagada.
As atuações estão muito boas e até mesmo Fábio Porchat (que eu costumava chamar, carinhosamente, de Fábio Porchato) consegue impressionar por entregar uma atuação muito diferente da que vemos no próprio canal Porta dos Fundos. O resto do elenco de apoio também entrega muito bem e Irene Ravache faz um trabalho tão bom no papel da mãe do protagonista que, em alguns momentos, chega a roubar a cena. Sua personagem, assim como a de Porchat, exigem uma atuação capaz, mas muito sutil, além de uma química entre os dois, que seriam mãe e filho. É uma felicidade perceber que os dois cumprem os requisitos.
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Aliás, falando em Porta dos Fundos, talvez esteja ali o (que talvez seja o) único problema do filme: Sua campanha de marketing vendeu um filme diferente do apresentado, Pelo trailer e pelos comerciais, o clima parece ser muito mais descontraído e o riso parece ser mais solto. Vale ressaltar novamente: Apesar de ter cenas bastante engraçadas, o filme é um drama! Não se deixem levar pelo que dizem, para não chegar na sessão e achar o filme "chato" ou "sem graça".
No fim das contas, Entre Abelhas é uma excelente dramédia, que trata de temas importantes de um jeito tocante. O filme dá um novo rosto para o cinema "mainstream" brasileiro, atualmente dominado pelo "padrão Globo Filmes" e, se erra em alguma coisa, essa coisa é a forma como foi vendido.