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Riggan é um ex ator de Hollywood, que ficou marcado por seu papel como Birdman, um herói fantasiado de pássaro cujo filme teve duas continuações. Vinte anos depois, Riggan tenta se consolidar como um verdadeiro artista, tentando em placar a peça "Sobre o que Falamos quando Falamos sobre Amor?" na Broadway, cujo roteiro ele adapta, dirige e protagoniza. Como se não bastassem todas os problemas da peça, Riggan tem que lidar com uma voz que insiste em o lembrar de seus tempos de glória.
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“E você conseguiu o que queria desta vida, apesar de tudo?"
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) do original Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance) não podia estrear em tempos melhores. Em uma época em que fãs se alucinam e criam fóruns para discutir sobre as promessas de grandes e incontáveis filmes de Super Heróis, surge um filme que vê o outro lado dessa história. Mas vai muito além disso.
Logo, é natural informar que o filme foi indicado pela academia a nada menos que 9 Óscares. Dentre eles o de Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Atriz Coadjuvante (veja todos aqui).
O roteiro criado por Alejandro G. Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris Jr. e Armando Bo, é dirigido pelo próprio Alejandro González Iñárritu. Emmanuel Lubezki é responsável pela fotografia do filme, enquanto Antonio Sanchez é quem figura nos solos de bateria da trilha sonora. Os destaques de Edição de Som vão para Martín Hernández e Aaron Glascock, enquanto os de mixagem vão para Jon Taylor, Frank A. Montaño e Thomas Varga.
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A brincadeira do filme, que se assume como uma mistura de drama e comédia logo em seus primeiros minutos, já começa pela escolha dos atores principais (ou principal e os coadjuvantes): Michael Keaton, que teve a marca de um Super Herói em sua carreira, depois de ter vestido o manto do Cavaleiro das Trevas por duas vezes, nos filmes do Batman dirigidos pelo Tim Burton; Edward Norton, apesar de ser mais conhecido por outros projetos, já encarnou a pele do Gigante Esmeralda da Marvel, no último filme solo do Hulk; Emma Stone, que não defendia a cidade, mas que figurou como Gwen Stacy, a linda namorada do Cabeça de Teia, nos dois filmes da nova franquia do Homem-Aranha.
Birdman apresenta uma crítica muito ácida ao império dos Blockbusters, à saturação do mercado em relação aos filmes de super heróis (que a maioria de nós, que consumimos, mal percebemos), ao floquinho de neve cuidadosamente criado, que algumas pessoas imaginam ser.
Tudo isso somado à nossa cultura cibernética efêmera e desesperada por atenção, que precisa se tornar viral para existir e, ao mesmo tempo, àqueles que se apegam ao passado e agem de forma tecnofóbica. É claro que o filme não para por aí.
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É muito catártica a forma com a qual o filme reflete uma parte da vida dos atores que nele atuam, assim como a peça teatral, cuja produção se torna pano de fundo do filme, reflete bastante a vida e a própria personalidade de seu protagonista, que, por acaso, também é protagonista do filme (e do mesmo modo se reflete em sua própria vida, já que o assunto aqui é metalinguagem).
Tecnicamente falando, o filme é tão incrível quanto sua proposta e seu roteiro.
Tirando alguns momentos no início e no final do filme que serviriam para separar o prólogo e o epílogo o filme é todo apresentado em um Plano Sequência aparente significando que mesmo que você tenha certeza de que alguns cortes acontecem durante a projeção toda a história é apresentada por uma câmera dinâmica que se movimenta pelos cenários e não realiza cortes entre os diferentes momentos da narrativa como um texto sem vírgulas, igual ao que está acontecendo neste parágrafo, até aqui.
O filme consegue ser frenético e fluido ao mesmo tempo, assim como seus diálogos. Acredite, um minuto de desatenção pode comprometer a experiência. Contudo, é muito fácil se envolver nessa história.
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A trilha sonora faz um trabalho parecido, solos de bateria ditam o ritmo do filme. A brincadeira com a metalinguagem é tão grande, que não há certeza se fazem parte da vida dos personagens ou se são apenas a trilha padrão. Uma outra faixa de audio, muito mais dramática e heróica, pontua os momentos dúbios do protagonista. Além disso, a preocupação com cada detalhe sonoro, como o simples "tic tac" de um relógio, provocam o espectador de uma maneira louca, mas positiva.
Existem muitos longa-metragens que nos levam a pensar "Por que essa coisa foi indicada ao Oscar?", felizmente, Birdman está sendo reconhecido por sua ousadia, malícia, metaliguagem e capacidade de entreter, divertir e provocar reflexões. Prova que o clichê não é necessário quando existe vontade e, acima de tudo, coragem.
“Consegui."
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