Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo

SINOPSE
Campeão olímpico de luta greco-romana, Mark Schultz sempre treinou com seu irmão mais velho, David, que é também uma lenda no esporte, até que, um dia, recebe um convite para visitar o milionário John du Pont em sua mansão. Apaixonado pelo esporte, du Pont oferece a Mark que entre em sua própria equipe, a Foxcatcher, onde teria todas as condições necessárias para se aprimorar. Atraído pelo salário e as condições de vida oferecidas, Mark aceita a proposta e, assim, se muda para uma casa na propriedade do milionário. Aos poucos eles se tornam amigos, mas a difícil personalidade de du Pont faz com que Mark acabe seguindo uma trilha perigosa para um atleta.



"O Treinador é o pai. O Treinador é um mentor. O Treinador tem grande poder sobre a vida dos atletas."

Vamos direto ao ponto. Da mesma maneira que O Jogo da Imitação é bem adaptado e Birdman é corajoso, Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo é um filme extremamente lento. Baseado em fatos reais, ele, de fato, parece muito com a vida real: às vezes nada acontece.

A história conta a relação conturbada do milionário John du Pont com os irmão Mark e David Schultz, medalhistas de ouro em luta greco-romana. Foxcatcher foi indicado a 5 Oscars, dentre eles: Bennett Miller como Melhor Diretor e Bill Corso junto a Dennis Liddiard na categoria de Melhor Cabelo e Maquiagem.

Escrito por E. Max Frye e Dan Futterman, o filme é estrelado por Steve CarellMark Ruffalo Channing Tatum. Os atores saem de suas zonas de conforto de atuação (Ruffalo é o que mais tem contato com o drama intenso, uma vez que Carell costuma fazer dramédias e Tatum costuma figurar em filmes mais jovens e descompromissados) e fazem um excelente trabalho, com interpretações intensas e compenetradas. Sentimentos são muito bem transmitidos, até em cenas sem diálogo, refletindo muito o gabarito daqueles que estão em cena, mas que também é mérito do diretor.


Antes de falar sobre qualquer outra coisa, esse parágrafo será dedicado à sensacional equipe de maquiagem e cabelo. Que trabalho, amigos! Refletindo muito bem nas personagens, as maquiagens estão incríveis. Os irmãos Schultz portam estranhas orelhas, que parecem esfoladas e cheias de calos causados pela violência das lutas que já protagonizaram, enquanto du Pont tem um nariz enorme, como o do famoso Pinóquio, mostrando que é ele uma grande mentira, para si mesmo e para os outros, enquanto tenta provar para sua mãe que já se tornou um Menino de Verdade.

John du Pont, aliás, é tão excêntrico, que parece "coisa de filme" e, apesar de ser mesmo, ele realmente existiu. Ao longo do filme, várias nuances da construção da personagem vão sendo sutilmente mostradas em tela, desde sua intensa e infantil procura pelo reconhecimento de sua mãe, que aparentemente o vê como o pequeno garoto mimado que ele ainda é, até seu interesse anormal em armas, que constantemente nos alerta para o perigo que ele representa.



Em contraste, Mark Schultz é o típico cara que batalha duro para vencer, assim como o seu irmão David. A diferença entre os dois fica clara logo nos primeiros momentos do filme, quando Mark está treinando sozinho e David, após receber uma proposta de emprego, conta para o irmão e começa a ajudá-lo no treino, mas é hostilizado. A dinâmica entre as três personagens é muito interessante, mas também é a única força motriz do filme. E aí entra um problema.

A história é notável e ganha muita força por realmente ter acontecido, mas a lentidão e duração exagerada do filme criam uma linha tênue entre uma obra de entretenimento e uma obra apenas de cunho informativo. A atmosfera doentia do filme é bem construída, mas, pela constante sutileza da apresentação e tamanha aposta nos atores, essa mesma atmosfera não é tão envolvente. Pela lentidão do andamento do filme, chega-se ao ponto em que boa parte de seus espectadores começam a se perguntar se o filme realmente tem apenas duas horas, ou se estão ali há mais tempo.



É claro que o relacionamento entre Du Pont e Mark é muito significativa, passando por estágios de amizade e companheirismo, paternalismo e até mesmo chegando a um momento em que existe uma insinuação de abuso, dando a ideia de opressão total por parte de um e terror e servidão por parte do outro. Mas essa mesma relação não é aproveitada, por exemplo, no desfecho do filme. É claro que há ressalvas, pelo fato de ter sido uma história real. Mas concessões artísticas são importantes para esses momentos.

Aliás, outro fator que causa muito estranhamento é o fato de que a narrativa de uma história tão chocante quanto essa (tanto que o título em português traz isso em sua promessa megalomaníaca - "Uma História que Chocou o Mundo") não é encerrada com os clichês, mas extremamente importantes e efetivos, recortes de midiáticos da época. Não há, nos últimos momentos, sequer uma simulação de áudio ou vídeo emulando a cobertura que foi feita pelos veículos do local e da época sobre a história ali narrada. É uma pena.
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