A Máquina Diferencial

Diference machine
SINOPSE
Em uma versão alternativa da Inglaterra vitoriana, a ascensão do Partido Radical trouxe mudanças impressionantes. Pelas ruas da capital, cartolas e crinolinas misturam-se a cinétropos, gurneys e cabriolés. O trem metropolitano e o sistema de esgotos revolucionam a rede urbana. Tudo graças às conquistas científicas alcançadas pela Máquina: no auge da Revolução Industrial, os avanços promovidos pela tecnologia a vapor anunciam a era da informática. Com um século de antecedência. Mas Londres também é uma cidade em convulsão. O alvoroço causado pela turba desordeira assusta a população. Além disso, uma conspiração mais sofisticada – porém não menos perigosa – parece ameaçar a segurança e a estabilidade de todo o país. Enquanto isso, uma misteriosa caixa com cartões perfurados é objeto de cobiça e disputa, pois guarda um segredo estratégico, ligado a interesses nebulosos. Acidentalmente ou não, ela cai nas mãos de diferentes personagens, mudando suas vidas: Sybil Gerard, ex-amante de um político influente e filha de um insurreto executado; Ada Byron, filha de Lorde Byron, então primeiro-ministro da Inglaterra; e Edward Mallory, um respeitado cientista, descobridor do famoso Leviatã Terrestre. 

“Um romance histórico de um passado que nunca existiu”

O steampunk é um subgênero da ficção científica com elementos da ficção especulativa. Nele, os autores reimaginam a era vitoriana caso a tecnologia tivesse se desenvolvido mais rapidamente, criando uma combinação de máquinas a vapor e computadores. Um de seus maiores clássicos é A Máquina Diferencial, livro escrito à quatro mãos por dois grandes nomes da ficção científica: William Gibson e Bruce Sterling.

A Máquina Diferencial foi inicialmente publicado em 1990, mas chegou ao Brasil apenas em 2012. Publicado pela Editora Aleph, está atualmente na sua segunda edição. Essa edição tem todo um charme especial que começa pela capa, que é preta com letras douradas e já dá o tom da trama. Além do texto integral, o livro conta com um posfácio escrito pelos autores, um guia de personagens, um glossário com termos pouco usados, arcaicos e inventados e um mapa do mundo como foi imaginado pelos autores. Esses elementos complementam a leitura e facilitam bastante a compreensão da realidade alternativa criada.

O livro é organizado em três partes, cada uma contendo poucos capítulos longos, protagonizadas por três personagens principais que têm suas vidas mudadas pelo aparecimento de uma caixa contendo misteriosos cartões perfurados. É esta caixa a responsável por manter a continuidade da narrativa pois, de outra forma, os personagens talvez nada tivessem em comum. Se, por um lado, esse fato seja um diferencial da obra; por outro, dificulta uma proximidade com os personagens: em alguns momentos, eles e suas aventuras são elementos secundários dentro de uma trama maior envolvendo esta caixa, ainda que o leitor, durante boa parte da narração, não saiba do que se trata.


Os personagens são uma mistura de real e fictício. Grandes nomes da ciência e da política ocupam novos papéis e cruzam com personagens inéditos e até com alguns conhecidos de outras obras. O efeito que se cria é muito bacana, uma combinação de familiaridade e choque. 

A escrita é bastante interessante, ainda que não exatamente fluida. Traz muitas descrições, o que retarda o ritmo da obra e a torna um pouco cansativa, mas apresenta várias informações sobre a tecnologia, a história, os debates científicos e os problemas sociais dessa era vitoriana alternativa. O resultado é muito bem trabalhado e inteligente. Além disso, a linguagem se assemelha à utilizada no período vitoriano real, o que é muito curioso. O leitor quase é convencido de que este se trata de um romance histórico.

O enredo, apesar de ser diferente do usual, não consegue prender o leitor durante grande parte do livro. Porém o desfecho é extremamente satisfatório. Pessoalmente, gostei tanto de como o livro foi finalizado que passei a enxergar a obra de uma forma diferente.

A Máquina Diferencial é um livro complexo e que, por seu ritmo e sua proposta, não agrada a todos. Porém é uma obra que tem seu espaço junto aos fãs da ficção científica e aos curiosos que gostem da literatura vitoriana, além de ser fundamental para os que se interessam pelo steampunk.
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