Carência do público
Uma característica das Comic Cons de fora que a gente ainda não tem aqui, infelizmente, é a possibilidade de encontrar um artista muito grande (como a Evangeline Lilly ou David Tennant, por exemplo) em livre trânsito pelo evento. Aqui, os artistas desse nível transitavam rodeados de seguranças e apenas de um ponto específico para outro, sem passeios. Alguns painéis de sexta, como o da Netflix, que contava com a presença de artistas relativamente grandes, e o do Frank Miller, aconteceram com uma grade entre o público e o palco.
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Uma das prováveis razões para isso é a carência do público brasileiro em relação a esse tipo de contato. Mesmo que quem more no Rio de Janeiro ou em São Paulo tenha esse tipo de vivência, de esbarrar com celebridades na praia e em restaurantes, o contato da maior parte dos brasileiros com os convidados da CCXP, principalmente os de fora, é muito limitado (quando existente).
Os dois lados são compreensíveis: tanto o do fã, que parte para a tietagem dos artistas por considerar que aquele encontro é uma oportunidade única de se declarar e registrar um encontro com quem admira, quanto do evento, que aumenta a segurança dos artistas (isso quando a segurança não é um pedido do próprio artista, o que também é compreensível) com receio de que este assédio assuste os convidados e acabe com a vontade deles de voltar ao Brasil.
Olhando por essa ótica, é possível que a CCXP seja o que temos de mais potente na viabilização do contato do público com essas celebridades. Considerando que a passagem de artistas por aqui para promover trabalhos geralmente é bem curta e agrega poucas pessoas, o mantimento das regras estabelecidas pelos artistas e pelo evento é muito importante para que, em um belo dia, a gente consiga chegar a um nível em que os artistas se sintam confortáveis para andar livremente e possamos ter um relacionamento mais próximo com esses caras que, por enquanto, só podemos admirar de longe.
Cosplayers
Uma oportunidade grande que esse tipo de evento traz é todo mundo poder ser celebridade por um minuto. Tirar fotos e fotos, com várias pessoas que compartilham os mesmos gostos com você, mesmo sendo um "civil", tem um custo muito específico: se tornar um cosplayer. A atividade de cosplay é uma arte milenar que envolve um processo de transformação, na qual o fã toma as características físicas (e às vezes psicológicas) de uma personagem que ele gosta. O trabalho é levado tão a sério que a maioria dos eventos de cultura pop têm algum tipo de concurso e premiação para essas pessoas (no casso da CCXP, o prêmio era nada menos que um carro).
Essa dedicação se reflete na popularidade de alguns cosplayers dentro do evento. Não era difícil, nessa edição da CCXP, encontrar filas e filas apenas para tirar foto com essas pessoas. Além disso, o tratamento dado a eles pelo evento é de recompensa. Além de existir uma entrada específica para os cosplayers, que não precisavam pegar a fila absurda de acesso ao evento, o canal Syfy tinha um estande gigantesco que servia basicamente como Quartel General (vulgo camarim) para quem quisesse montar ou retocar a fantasia.
Nota de repúdio
É claro que, como em toda festa de grandes proporções, algumas vezes somos brindados com a presença de penetras bêbados e idiotas querendo acabar com a alegria da maioria, roubando a bebida e cuspindo no bolo. Esse foi o caso do atrito entre a equipe do Pânico na TV e alguns dentro do evento.
Para gravar uma matéria sobre o evento, a dupla de o-que-quer-que-as-pessoas-que-trabalham-no-Pânico-são puxava os passantes para a frente da câmera e fazia várias piadas com eles, falando sobre suas roupas, suas motivações e suas fantasias. No que parece ser o ápice da estupidez, o rapaz que fazia as entrevistas lambeu o braço de uma garota vestida de Estelar.
O tabuleiro estava posto: de um lado, pessoas sem nada melhor para fazer, que se vestem e agem de forma ridícula e caricata (no nível "a sua mãe sabe que você faz isso?") para chamar um pouquinho de atenção e amenizar a carência. Do outro, os cosplayers. A balança, para a tristeza dos primeiros, pendia muito para os segundos. No fim das contas, tamanha a reação negativa ao ocorrido que a equipe do Omelete publicou uma nota de repúdio às ações da equipe do Pânico na TV, que você pode ler aqui. A reação do evento mostrou, ainda mais, o quanto se importam com o bem estar de seu público e seu compromisso em fazer eventos cada vez mais próximos de sua promessa de que "Vai ser Épico".
Sentimento de confraternização
Algo que influenciava muito no clima do evento (ou será que era o clima que influenciava nisso?) era o constante sentimento de confraternização entre as pessoas que estavam ali. Não existiam guerrinhas entre Marvel e DC, Star Wars e Star Trek, biscoito ou
Isso era muito visível em todos os lugares, fosse em estranhos se ajudando a encontrar quadrinhos nos estandes de venda, fosse nas pessoas tirando fotos para desconhecidos nas filas de autógrafos de seus ídolos e até mesmo ficando felizes umas pelas outras por terem comprado aquele colecionável que esgotou, mesmo que uma delas não tivesse conseguido. Presenciar todas essas pequenas interações que fazem toda a diferença foi muito recompensador para quem passou muito tempo no evento.
É claro que sempre vai te alguém tentando (conscientemente ou não) tirar vantagem desse tipo de situação (alguns saindo como heróis, como foi o caso de um rapaz no painel do Frank Miller, e alguns saindo como vilões, como aconteceu com uma garota no painel da Evangeline Lilly), mas isso não impedia as pessoas de estarem lá umas pelas outras para celebrar a cultura pop. Um dos maiores exemplos disso aconteceu no painel do artista Jim Lee, em que ele entregou uma arte finalizada na hora para um garoto que fazia aniversário naquele dia e o auditório inteiro se alegrou, primeiro batendo palmas e depois cantando "parabéns pra você" para o garoto. Foi bonito de se ver.
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