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Seres amarelos unicelulares e milenares, os minions têm uma missão: servir os maiores vilões. Em depressão desde a morte de seu antigo mestre, eles tentam encontrar um novo chefe. Três voluntários, Kevin, Stuart e Bob, vão até uma convenção de vilões nos Estados Unidos e lá se encantam com Scarlet Overkill (Sandra Bullock), que ambiciona ser a primeira mulher a dominar o mundo.
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Coadjuvantes são coadjuvantes.
Essa é uma lei não escrita da humanidade, que previne acidentes narrativos de todo tipo. De um ponto de vista filosófico, alguns dirão que cada um deve ser protagonista se sua própria história, mas fica aqui uma verdade inconveniente: algumas histórias são muito chatas para serem acompanhadas e, por mais ilógico que pareça, ter bons momentos sob os holofotes não significa ter aptidão para o protagonismo. Minions é a prova cabal disso.
O roteiro é escrito por Brian Lynch e dirigido pela dupla Kyle Balda e Pierre Coffin. A dublagem original conta com nomes como Sandra Bullock, Jon Hamm e Michael Keaton e a versão brasileira traz Vladimir Brichta e Adriana Esteves como o casal de vilões principal do filme. A música é coordenada pelo brasileiro Heitor Pereira.
Antes de tudo (não exatamente de tudo, já que este é o terceiro parágrafo do texto), é importante lembrar um fenômeno que toma, de forma cada vez mais intensa, nossas salas de cinema: o público está debatendo, cada vez mais, as camadas mais profundas das animações, mesmo que a maioria destas se venda como algo voltado, a princípio, para o público infantil. Em contrapartida as animações parecem investir cada vez mais em textos construídos para agradar a todos os tipos de público, apresentando várias camadas de interpretação para atingir diversos tipos de espectadores, cada um de uma maneira. Isso é bom? Não. Isso é ótimo. Isso é obrigatório? Não. Isso é opcional.
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O problema surge quando você, mesmo focando apenas em um público, como é o caso do filme Minions, que aposta exclusivamente nas crianças, trai aqueles que você espera que estejam na sala, assistindo ao filme. Esta traição, aqui, acontece de duas formas: a mesma piada é contada várias vezes, como se apostasse em uma ingenuidade tão grande do público a ponto de acreditar que esta repetição não é percebida; por outro lado, o filme, mesmo oferecendo atrativos apenas para crianças, insere uma piada de cunho sexual tão desnecessária, descontextualizada e desesperada, que até um recém nascido surdo perceberia.
A jornada dos famosos Minions se inicia com uma animação minimalista muito promissora, mas chega ao seu clímax como aquele anfitrião cansado, que coloca Roupa Nova no fim da festa, esperando que os convidados entendam o recado e se retirem. A trama não é nada interessante e deixa claro que ninguém sequer sabia no que estava se metendo quando decidiu dar aos Minions, que são famosos por suas excelentes aparições de poucos minutos, um filme de mais de uma hora.
Apesar de sua fraca personagem; Scarlett, que ainda insiste em forçar suas motivações como um remédio amargo goela abaixo no espectador; Adriana Esteves faz uma boa dublagem, que não prejudica a personagem em um primeiro momento. O mesmo pode ser dito sobre o trabalho de Vladimir Brichta, que interpreta seu marido, Herb e é seu marido na vida real. Essa relação entre os atores, inclusive, influencia positivamente no timing da dublagem. Pela voz, você compra facilmente o relacionamento louco entre os vilões do filme.
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Os Minions, por outro lado, sofrem com a adaptação. As criaturas têm, em sua voz original, um dialeto estranho, que mistura dadaísmo com várias línguas diferentes, garantindo que você faça ideia do que eles estão falando, mas não dizendo isso de forma clara. Este aspecto, ao ser importado, traz um problema: refazer toda a dublagem, recriando os elementos desde o zero, ou apenas substituir alguns momentos-chave do texto? No fim das contas, decidiram pela segunda opção e o resultado... bom... é estranho.
Em resumo, Minions é um filme que deve tirar algumas risadas de crianças, mas tem uma proposta muito mais ambiciosa e interessante do que sua execução. Seus próprios protagonistas parecem se cansar do próprio filme e toda a promessa construída nos primeiros momentos vira apenas uma frase que soa no ouvido do espectador (e, provavelmente, dos seus criadores): nem tudo que reluz é ouro.